domingo, 29 de março de 2009

O MEU ADEUS AO RÁDIO



Em agosto de 1983, no dia mais triste de minha vida, enquanto o corpo de meu pai, radialista Gilberto Lima (na foto comigo, ainda criança) era velado, pedi ao meu querido tio, também radialista, Renato Moreira Filho, que colocasse um bilhete nas mãos de meu pai - eu não quis vêlo para manter sempre sua imagem de vivo - prometendo seguir seus passos no rádio.

O rádio sempre foi uma coisa que fez parte da minha vida. Não só pelo fato de ter sido a profissão de meu pai, mas porque a ida aos estúdios das rádios em que trabalhou, sempre foi um programa que eu gostava muito e me permitiu conhecer grandes e saudosos nomes do rádio como Edmo Zarife, Jorge Cury, Waldir Vieira e Waldir Amaral - a quem eu imitava com perfeição. Para se ter uma idéia, presenciei a gravação da vinheta do garotinho José Carlos Araújo, utilizada até hoje.

Cinco anos depois, em 1988, após algumas portas serem batidas na minha cara, comecei a cumprir a promessa feita, ao começar trabalhar como estagiário de produção na Rádio Manchete AM, onde trabalhei com dois grandes radialistas: Alexandre Ferreira e Roberto Canázio. Nesta época, cheguei a trabalhar como locutor na Rádio Bandeirantes AM, apresentando um programa de músicas italianas, que ia ao ar aos domingos.

Após a minha saída da Manchete, fazia alguns trabalhos de locução comercial, mas como estava fazendo faculdadde de Direito, acabei me afastando do rádio, pois naquele momento tinha outros interesses profissionais. Após um hiato de quase 10 anos, em 2000, após um convite de meu amigo Marcelo Arar, voltei para o rádio, como DJ do programa Mafuá, que fazia com o próprio Arar, com meu amigo locutor Orelhinha e a atriz Suzana Werner, na Rádio Jovem Rio. Pouco tempo depois, após uma debandada de locutores da emissora para a concorrente Jovem Pan, veio o convite para assumir o posto de locutor (foto), desafio muito grande, pois estava meio enferrujado e deveria me adaptar às novas técnicas de operação de áudio. Muito criticado no início, consegui imprimir um novo estilo de locução, meio marrento, que tinha no bordão "passando a guarda da concorrência" - devido ao fato de ser faixa-preta de jiu-jitsu - uma coisa marcante.


Em 2002 a Jovem Rio acabou para abrir passagem para volta mal sucedida da extinta Rádio Fluminense FM. Após alguns meses afastado, fui convidado a fazer um programa de Hip Hop na Rádio Transamérica, que incialmente dividia com meu parceiro de Opalão76, DJ Pachu, que tempos depois se desligou do programa. O Hip Hop Transamérica, que tempos depois se transformou em "Diversão Hip Hop" e chegou a ter três edições semanais, foi um programa que marcou profundamente o rádio do Rio de Janeiro. Não só pela liberdade que eu tinha, podendo tocar novidades, coisas do underground e o até então proscrito rap nacional. Figuras como Marcelo D2 - que mostrou em estréia nacional faixa do ainda mixtape "a procura da batida perfeita", MV Bill e Sandrão do RZO por lá passaram, assim como o DJ Pro, do grupo novaiorquino The Beatnuts. O programa foi o primeiro no Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, a colocar MCs improvisando ao vivo - fato comum nas emissoras gringas. Um destes improvisos, momento clássico no rádio brasileiro, foi feito pela trinca Flavor Flav (Public Enemy), Timbo King (Wu Tang Klan) e P Bomb (7th Octave). Quando a liberdade que era a característica do programa, começou a ser cerceada, deixei a emissora.

Depois de um período fora do ar, fui para a Rádio Jovem Pan, onde aos domingos, fazia com o meu amigo DJ Paxson, o programa Ritmo da Noite Black, que dividi também com o DJ Juan. O programa tinha ótimos índices de audiência. Na sequência, o dial 102.1 virou Mix FM e eu me mantive com o programa Black aos domingos, que chegou a ser o programa mais ouvido da emissora no horário das 22 às 23h. Apesar da audiência, fui afastado da emissora sem muitas explicações, um mistério para o qual não consegui achar respostas até hoje. Após o período eleitoral, resolvi retornar ao rádio, cheguei a tratar com algumas emissoras, mas infelizmente não consegui o espaço - que, diga-se de passagem não lhe rende nada, além da "mídia", que nem sempre é retorno de trabalho, uma vez que muitos DJs que tem programa em rádio não tem espaço na cena. O rádio sempre foi para mim, muito mais uma coisa de sangue, de prazer pessoal do que uma questão de mídia, pois se assim fosse, não teria tido batido de frente com algumas pessoas como fiz algumas vezes.

Depois de pensar muito, tendo em vista os novos horizontes e desafios que a vida me apresentou na Secretaria de Cultura do Rio, decidi que minha promessa estava cumprida, uma vez que minha passagem pelo rádio foi marcante e meu pai, onde estiver, deve ter orgulho do meu esforço. Por isso, decidi que minha passagem pelo rádio está encerrada. Agradeço aos meus padrinhos Carlos Sigelmann (que me abriu a 1ª porta), Christovam Newmann (em especial, pois enfrentou o mundo ao investir no meu nome), Gentil Sobrinho e Alexandre Amorim pelas oportunidades e, fundamentalmente aos milhares de ouvintes pela audiência ao longo deste tempo. Quem quiser ouvir o DJ Saddam é só procurar alguma das minhas 5 residências ou algum dos vários eventos que participo.

Gilberto Lima vive! Viva Gilberto Lima! Viva o rádio!

2 comentários:

Patrick Alves disse...

Legal o texto Saddam e só por vc ter presenciado a produção da vinheta do garotinho já é uma coisa marcante e curiosa!!!


=)

Unknown disse...

maneraço, grande depoimento, abraço, do seu amigo, Junior Samurai.