terça-feira, 31 de março de 2009

DESCANSE EM PAZ 64


Há exatos 45 anos, um golpe militar - chamado por alguns de "revolução" - jogou o Brasil em duas décadas de ditadura. Liberdades foram suprimidas, pessoas foram, presas, torturadas e mortas em um verdadeiro terrorismo de Estado.
A todos aqueles que pagaram com suas vidas, com o sofrimento insuperável de ter sido torturado, a todos os que foram obrigados a deixar o seu próprio país para não sofrer com toda essa arbitrariedade, minha humilde homenagem.

No fim da década de 80, participei de vários "enterros da ditadura", que sempre eram promovidos pelo Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO) do Direito da UFRJ para lembrar que o povo brasileiro não queria aquilo nunca mais. Prática que hoje em dia, infelizmente não ocorre mais no dia 31 de março de cada ano.

Hoje, mais de 20 anos após a abertura política, estamos com o regime democrático praticamente consolidado, mas, só apararemos todas as arestas quando o governo tomar coragem e abrir finalmente a caixa-preta dos arquivos da ditadura, para que finalmente se esclareçam as perguntas que parentes e amigos fazem até hoje, entre elas a confissão do Estado do extermínio feito no Araguaia e a exata localização dos corpos dos guerrilheiros do PC do B, executados pelos militares.

domingo, 29 de março de 2009

O MEU ADEUS AO RÁDIO



Em agosto de 1983, no dia mais triste de minha vida, enquanto o corpo de meu pai, radialista Gilberto Lima (na foto comigo, ainda criança) era velado, pedi ao meu querido tio, também radialista, Renato Moreira Filho, que colocasse um bilhete nas mãos de meu pai - eu não quis vêlo para manter sempre sua imagem de vivo - prometendo seguir seus passos no rádio.

O rádio sempre foi uma coisa que fez parte da minha vida. Não só pelo fato de ter sido a profissão de meu pai, mas porque a ida aos estúdios das rádios em que trabalhou, sempre foi um programa que eu gostava muito e me permitiu conhecer grandes e saudosos nomes do rádio como Edmo Zarife, Jorge Cury, Waldir Vieira e Waldir Amaral - a quem eu imitava com perfeição. Para se ter uma idéia, presenciei a gravação da vinheta do garotinho José Carlos Araújo, utilizada até hoje.

Cinco anos depois, em 1988, após algumas portas serem batidas na minha cara, comecei a cumprir a promessa feita, ao começar trabalhar como estagiário de produção na Rádio Manchete AM, onde trabalhei com dois grandes radialistas: Alexandre Ferreira e Roberto Canázio. Nesta época, cheguei a trabalhar como locutor na Rádio Bandeirantes AM, apresentando um programa de músicas italianas, que ia ao ar aos domingos.

Após a minha saída da Manchete, fazia alguns trabalhos de locução comercial, mas como estava fazendo faculdadde de Direito, acabei me afastando do rádio, pois naquele momento tinha outros interesses profissionais. Após um hiato de quase 10 anos, em 2000, após um convite de meu amigo Marcelo Arar, voltei para o rádio, como DJ do programa Mafuá, que fazia com o próprio Arar, com meu amigo locutor Orelhinha e a atriz Suzana Werner, na Rádio Jovem Rio. Pouco tempo depois, após uma debandada de locutores da emissora para a concorrente Jovem Pan, veio o convite para assumir o posto de locutor (foto), desafio muito grande, pois estava meio enferrujado e deveria me adaptar às novas técnicas de operação de áudio. Muito criticado no início, consegui imprimir um novo estilo de locução, meio marrento, que tinha no bordão "passando a guarda da concorrência" - devido ao fato de ser faixa-preta de jiu-jitsu - uma coisa marcante.


Em 2002 a Jovem Rio acabou para abrir passagem para volta mal sucedida da extinta Rádio Fluminense FM. Após alguns meses afastado, fui convidado a fazer um programa de Hip Hop na Rádio Transamérica, que incialmente dividia com meu parceiro de Opalão76, DJ Pachu, que tempos depois se desligou do programa. O Hip Hop Transamérica, que tempos depois se transformou em "Diversão Hip Hop" e chegou a ter três edições semanais, foi um programa que marcou profundamente o rádio do Rio de Janeiro. Não só pela liberdade que eu tinha, podendo tocar novidades, coisas do underground e o até então proscrito rap nacional. Figuras como Marcelo D2 - que mostrou em estréia nacional faixa do ainda mixtape "a procura da batida perfeita", MV Bill e Sandrão do RZO por lá passaram, assim como o DJ Pro, do grupo novaiorquino The Beatnuts. O programa foi o primeiro no Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, a colocar MCs improvisando ao vivo - fato comum nas emissoras gringas. Um destes improvisos, momento clássico no rádio brasileiro, foi feito pela trinca Flavor Flav (Public Enemy), Timbo King (Wu Tang Klan) e P Bomb (7th Octave). Quando a liberdade que era a característica do programa, começou a ser cerceada, deixei a emissora.

Depois de um período fora do ar, fui para a Rádio Jovem Pan, onde aos domingos, fazia com o meu amigo DJ Paxson, o programa Ritmo da Noite Black, que dividi também com o DJ Juan. O programa tinha ótimos índices de audiência. Na sequência, o dial 102.1 virou Mix FM e eu me mantive com o programa Black aos domingos, que chegou a ser o programa mais ouvido da emissora no horário das 22 às 23h. Apesar da audiência, fui afastado da emissora sem muitas explicações, um mistério para o qual não consegui achar respostas até hoje. Após o período eleitoral, resolvi retornar ao rádio, cheguei a tratar com algumas emissoras, mas infelizmente não consegui o espaço - que, diga-se de passagem não lhe rende nada, além da "mídia", que nem sempre é retorno de trabalho, uma vez que muitos DJs que tem programa em rádio não tem espaço na cena. O rádio sempre foi para mim, muito mais uma coisa de sangue, de prazer pessoal do que uma questão de mídia, pois se assim fosse, não teria tido batido de frente com algumas pessoas como fiz algumas vezes.

Depois de pensar muito, tendo em vista os novos horizontes e desafios que a vida me apresentou na Secretaria de Cultura do Rio, decidi que minha promessa estava cumprida, uma vez que minha passagem pelo rádio foi marcante e meu pai, onde estiver, deve ter orgulho do meu esforço. Por isso, decidi que minha passagem pelo rádio está encerrada. Agradeço aos meus padrinhos Carlos Sigelmann (que me abriu a 1ª porta), Christovam Newmann (em especial, pois enfrentou o mundo ao investir no meu nome), Gentil Sobrinho e Alexandre Amorim pelas oportunidades e, fundamentalmente aos milhares de ouvintes pela audiência ao longo deste tempo. Quem quiser ouvir o DJ Saddam é só procurar alguma das minhas 5 residências ou algum dos vários eventos que participo.

Gilberto Lima vive! Viva Gilberto Lima! Viva o rádio!

terça-feira, 24 de março de 2009

A LEI QUE REGULAMENTA A PROFISSÃO DJ DEVE SER VETADA

Ontem realizamos a reunião na Fundição progresso onde foi reconhecido que o projeto que regulamenta a profissão DJ não é o ideal. Foi tirado um indicativo para que uma nova reunião se realize no próximo dia 06/04 - segunda - às 19h em local ainda a ser divulgado.

Conversei com um deputado federal sobre a situação e sobre o que foi discutido. Ele me falou o seguinte: NÃO TEM COMO ALTERAR O TEXTO APROVADO, POIS O MESMO SE ENCONTRA APROVADO.O principal ponto de discordância apresentado, foi o fato de não ter sido criada uma categoria específica de DJ e sim esta vindo a ser inserida na categoria de Técnicos em Espetáculo de Diversão e isto não tem como ser alterado, pois a lei altera uma outra já existente nos inserindo nela.

Após esta conversa, pude falar com representativos e valorosos companheiros DJs da cena black como Claysoul, TR, Juan e Dema, os quais concordaram, que, neste caso, infelizmente não caberá outro encaminhamento se não o pedido de VETO ao texto.
Isto será democraticamente discutido e votado na assembléia do dia 6. A proposta vitoriosa será democraticamente aceita.

Como eu disse na reunião: "A classe já espera há 20 anos. É melhor esperar mais dois do que ter que cumprir para sempre uma lei que não a contempla"

Lenin dizia: "Um passo atrás, dois passos a frente" e isso se aplica em gênero, número e grau à situação.

Estamos em um momento histórico em que, talvez a posição dos DJs cariocas seja lembrada por muito tempo como a que conseguiu evitar um atraso na profissão que de artística passa a ser técnica, em vez de um sindicato próprio, ter que ser inscrito no SATED, com o patrão passando a colocar o DJ pra tocar cruéis 6 horas ininterruptas amparado por esta lei ( art. 21, VI do substitutivo), não atende aos interesses dos autônomos - que são mais ou menos 80% da categoria - entre outras coisas.

Portanto, diante dos fatos DEFENDO UMA POSIÇÃO PELO VETO AO PROJETO DO TUMA.

sábado, 21 de março de 2009

FORUM CARIOCA DE DJS NESTA SEGUNDA NA FUNDIÇÃO PROGRESSO

Estaremos realizando nesta segunda-feira - 23/03 às 19h no auditório da Fundição Progresso - Lapa - no térreo - uma reunião com o objetivo de discutir o projeto de lei aprovado, que regulamenta a profissão de DJ: seus prós e contras. Também será formado nesta reunião o Fórum Carioca de DJs que visará, dependendo do que for aprovado, encaminhar um indicativo para a realização de um grande fórum nacional de DJs para discutir um texto de lei e froma de regulamentação que atenda aos interesses da categoria.
A pontualidade é fundamental, uma vez que temos um teto para entrega do auditório previsto para as 22h.

Compareça e ajude se possível a divulgar

Manifeste-se agora ou cumpra para sempre.


Minha opinião sobre o assunto pode ser conferida aqui no blog.

terça-feira, 10 de março de 2009

A IGREJA CATÓLICA E O MÊS DAS MULHERES


No mês em que é comemorado o dia internacional da mulher, realmente a Igreja Católica, que desde a eleição de um membro da Opus Dei e ex-militante da juventude hitlerista (foto) para o cargo de Papa vem dando passos largos de caraguejo, conseguindo ficar mais retrógrada do que era, mostrou o porque do seu esvaziamento contínuo e do crescimento das seitas pentencostais.

Primeiro o caso do arcebispo de Recife e Olinda - cargo que já foi ocupado por gente do quilate do saudoso Dom Helder Câmara - veio a público pagar o mico de excomungar a equipe médica que havia feito o aborto legal na menina de 9 anos, grávida de gêmeos que havia sido estuprada pelo padastro. No caso, os dois tipos previstos em lei para o aborto legal estavam presentes: estupro e risco de vida da gestante. Para complementar a CNBB e o Vaticano ratificaram a baboseira, que ainda incluiu mais uma pérola do arcebispo, Dom José Cardoso Sobrinho, ao ser perguntado pelo o porque do padrasto estuprador não ter sido excomungado, assim como os médicos: "Aborto é mais grave que estupro". O Presidente Lula mandou bem e defendeu a equipe médica que cumpriu a lei.

Ainda essa semana, a Igreja Católica mais uma vez mostrando todo o seu respeito pelas mulheres publicou no jornal semi-oficial do Vaticano, o L'Osservatore Romano, um longo artigo que diz que a máquina de lavar talvez tenha feito mais pela liberação da mulher no século XX do que a pílula anticoncepcional ou o acesso ao mercado de trabalho. O pior é que tal artigo foi escrito por uma mulher, provavelmente alguma beata mal-amada e cheia de traumas ao longo de sua vida amarga.

Para complementar a semana, um arcebispo irlandês, foi afastado de suas funções após denúncias de pedofilia. Naquele país inclusive, diante de tantos casos envolvendo religiosos com menores de idade, a Igreja Católica para se precaver, faz seguros milionários para garantir qualquer indenização em caso de processos envolvendo padres com pedofilia.

É aquele velho bagulho: antes de falar do umbigo do outro, olha o seu pra ver se não está sujo.

sábado, 7 de março de 2009

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DJ: COMO? PARA QUEM?



A regulamentação da profissão DJ no Brasil vem ocupando com destaque a mídia e provocando discussões acaloradas nos profissionais doS toca-discos.

O projeto de lei 740/2007 do Senador Romeu Tuma – político que realmente tem um “vínculo intrínseco com a categoria e com a cultura”- altera a Lei 6533/78 que dispõe sobre a regulamentação de Artistas e de Técnicos em Espetáculo de Diversões. O projeto já começa mal, pois coloca o DJ como profissional técnico, retirando o artístico da profissão, que há tempos vem ocupando lugar de destaque mo cenário musical, com profissionais de ponta como Marky, Patife, Anderson Noise e Marlboro conquistando mercado em outras praças. Vários festivais são realizados, reunindo milhares de pessoas, onde os Djs são as únicas atrações. Nestes espetáculos, os técnicos: sonoplastas, iluminadores, contra-regras e outros, trabalham em função do DJ que está no palco e é o artista.

Muitos abraçam este projeto de lei como fosse o “ovo do Colombo”, a “salvação da lavoura” pois finalmente reconhece legalmente a profissão DJ. Isso é defendido principalmente pelos mais antigos que sonham se aposentar como tal. Mas a lei, na verdade, não atende a maior parte da categoria que é de autônomos. Prevê como carga máxima horária diária 6 horas, quando na verdade, qualquer profissional do ramo sabe que isso é extremamente desgastante para o DJ e, ao mesmo tempo, pode influenciar a dispensa de Djs por proprietários de casas noturnas, uma vez que já que a carga máxima é de 6 horas, um único DJ pode muito bem conduzir sozinho uma festa, recebendo o mesmo cachê mixuruca que é praticado na maioria dos lugares.

A categoria dos Djs tem uma peculiaridade: como é composta em sua maioria por autônomos, fica mais difícil um convívio maior com outros profissionais do ramo e torna o mercado cada vez mais cruel, com a competição forte e muitas vezes desleal. Ao contrário de outras categorias em que aquele velho antagonismo de classes “patrão X empregado” é o que dita e une, no ramo dos toca-discos, na maioria das vezes o grande vilão dos Djs é o próprio colega de cabine de som, que tenta de todas as formas queimar o trabalho do outro, cobra mais barato pra tirar o serviço do colega, fala que contrato é coisa de estrela, entre outras pérolas do mau-caratismo.

Há mais ou menos 4 anos atrás, convoquei uma reunião para o Teatro Casa Grande, no Leblon, que havia sofrido um incêndio, com o objetivo de fundar uma Associação dos Djs profissionais. Compareceram mais de 30 pessoas, entre elas vários “top Djs” como Marlboro, Roger Lyra e Marcelinho Da Lua, entre outros. Este encontro foi noticiado pela grande imprensa, que me colocava como líder do movimento. Coisa de 15 dias depois, eu bati de frente com a direção de uma grande casa noturna da Baixada Fluminense, quando me recusei a dar exclusividade à casa naquela região ( eu só tocava lá aos domingos e os donos não queriam que eu tocasse em outras casas por lá). Convoquei os outros Djs a fazerem o mesmo, pois a casa não teria como mandar todo mundo embora e o momento era bom, pois estávamos nos organizando. Resultado: fui o único a bater de frente e, por conseguinte, o único a perder o trabalho.

Há um tempo rolaram reuniões para tratar deste projeto do Tuma. Mas, quando recebi o convite para a primeira reuniãoe vi que estava marcada para a sede do PMDB do Rio, desisti de ir na hora. Não é hipocrisia. É público que sou militante do Partido Comunista do Brasil, mas acho profundamente temerário, que seja marcado este tipo reunião de organização profissional em sede de partido político. Quando li o projeto de lei e vi que era ruim, conclui que era perda de tempo. Depois de conversar com alguns músicos importantes como o cantor e compositor Tibério Gaspar e o Maestro Silvio Barbato, percebi que eles tinham simpatia na tese dos Djs serem regulamentados pela Ordem dos Músicos do Brasil como uma categoria especial de músico-praticante. Isso teria uma série de vantagens, pois não dependeria da aprovação de lei específica e sim de um aditivo ao estatuto da OMB, como também elevaria o DJ à condição de artista da música, que é o que ele realmente é. Vários colegas viram com simpatia esta tese. Mas quando a apresentei à comunidade dos Djs do Rio no orkut, o pessoal da ADJ-RJ – que é uma associação que representa pequena parcela da classe – veio descendo o pau, dizendo que eu não tinha participado da discussão (aquela que começou na sede do PMDB) e que tinha que ter um sindicato próprio da categoria.

Aí, verificando o tal projeto do Tuma, percebi que após a regulamentação, os Djs para obterem seus registros profissionais junto ao Ministério do Trabalho, deveriam ter diploma expedido por curso registrado no MEC (o que não existe) ou autorizado pelo sindicato. Aqueles que já fossem atuantes e, portanto garantidos pelo direito adquirido, deveriam ir ao sindicato para retirar a sua carta de apresentação. Aí caiu a ficha: se o interesse fosse tão somente na regulamentação, a hipótese da OMB seria abraçada com louvor. Mas como existe o interesse na formação do sindicato e na consequente arrecadação na emissão das cartas e nas autorizações dos cursos, a regulamentação, por pior que o projeto do Tuma a apresente, tornou-se algo interessante.

No fim de fevereiro, eu e o maestro Sílvio Barbato participamos de um painel do evento Rio Music Conference, que reuniu Djs na Marina da Glória aqui no Rio. Apesar do tempo curto do debate, foi o suficiente para a tese da OMB passar a ser ventilada.

Vejam: eu sou favorável à regulamentação, mas não da forma que está sendo proposta. A grande coisa deste movimento é a possibilidade de se abrir uma discussão ampliada em um fórum nacional, para que se discuta a melhor forma da regulamentação, seja pela OMB ou por sindicato próprio, mas não da forma que está sendo proposta, pois desvaloriza o DJ o retirando da condição de artista. Faço questão de afirmar isto, pois está rolando um maniqueísmo barato no sentido de quem é contra o projeto do jeito que está é contra a regulamentação. Vamos avançar no debate e construir uma proposta concreta e objetiva para a regulamentação e, principalmente a valorização da profissão DJ.


Este texto também será publicado nos sites Bocada Forte e Vermelho